|
|
Os relatos encontrados nos livros e revistas que tratam sobre o processo migratório do final do século XIX e início do século
XX têm uma uniformidade quando da descrição das dificuldades e condições encontradas pelos imigrantes na sua chegada. Por
isso, penso ser possível estender estas descrições para a situação particular de Giovanni Pozzebon e sua família. Quando
chegavam nas fazendas, os imigrantes encontravam habitações precárias, geralmente de chão batido. No Vêneto, até as casas
mais pobres eram de dois pavimentos.(1) As fazendas eram isoladas, com vida própria, e geralmente distantes umas das
outras. Quando chegava o imigrante, sem dinheiro, era obrigado, pelo isolamento da fazenda, ou por não conseguir crédito em
outro lugar, a comprar na própria fazenda, que mantinha uma venda para tal finalidade. Os preços dos produtos eram altos e,
os baixos salários praticados, colaboravam para o endividamento crescente. E por muitas vezes, o dinheiro guardado com
tanto sacrifício, era gasto com alguma doença. Até mesmo uma doença de curta duração podia inutilizar meses e até anos de
economias. Os imigrantes que chegaram entre 1885 e 1895 encontraram condições que permitiam a acumulação de um pequeníssimo
capital e tiveram uma chance maior de fazer seu pecúlio, e posteriormente, adquirir um pedaço de terra. Contribuíram para
isso as próprias características da família campesina peninsular, sobretudo vêneta: frugalidade, espírito de sacrifício, parcimônia,
que tocava as raias da mesquinharia, e a estrutura patriarcal. Além disso, as possibilidades de ganho aumentavam com maior
número de pessoas aptas a trabalhar, e não raro, as crianças começavam a trabalhar entre os pés de café na idade de 6-7 anos.
Contanto que subsistissem determinadas condições como ausência de doenças, proximidade de um centro de consumo onde pudesse
vender os excedentes de sua produção, fazendeiros que não aplicassem um sistema de multas muito severo e que fossem pontuais
nos pagamentos, além da frugalidade e família numerosa, o imigrante conseguiria, no prazo de alguns anos, adquirir sua propriedade.
Sobre as multas, cabe uma explicação: o dono da fazenda era também a lei da fazenda. As multas eram aplicadas desde uma
simples falta de respeito até recusa de cumprir determinada ordem ou tarefa. Com isso, o fazendeiro deixava de pagar consideráveis
quantias aos colonos; reforça esta afirmação o fato registrado na literatura de que no período em que houve queda do preço
do café no mercado interno, a aplicação de multas, e mesmo o valor dessas multas, aumentou. A necessidade de manter todos
trabalhando, inclusive as crianças, e o isolamento das fazendas dificultava o envio dessas crianças para a escola. O mito
do imigrante que chega sem dinheiro e consegue se tornar milionário é propagado por todos os lados. Totalmente tomado pela
ideologia do trabalho e do sacrifício como único elemento de ascensão social, muito dificilmente continuava a mandar os filhos
para a escola após o primário. Na tabela abaixo encontramos o orçamento de uma família de três pessoas aptas para o trabalho
(em réis).(2) Os valores expressos na tabela podem ser tomados como média, e aplicados para a família Pozzebon, na Fazenda
Barreiro. Chegando no Brasil no final de 1888, somente conseguiram comprar sua terra em 1922, ou seja, 34 anos depois. Estes
mesmos dados são encontrada num estudo (3), onde a média de tempo, da chegada à compra da terra é de 20 anos em alguns locais,
e até mais, em outros. A fazenda São Carlos, comprada por Giovanni Pozzebon e seus filhos Pietro e Victório, custou
Rs$ 40:000$000 (40 contos de réis), pagos 20 contos de entrada, e os 20 restantes nos dois anos seguintes. Ou seja, levaram
34 anos para formar, na condição de empregados, o pecúlio suficiente para a entrada, e nos dois anos seguintes, já como proprietários,
conseguiram repetir o que antes levaram mais de trinta anos. Desde o seu casamento Guerino Pozzebon não morava mais com
o pai e os irmãos. Não participou da compra da fazenda. Somente em 1932, com ajuda de seu irmão Victório, adquiriu o sítio
São Roque, ao lado do Cemitério do Sylvestre. 1- Andrea Pozzobon, in Zolá Franco Pozzobon Uma odisséia na América.
Editora da Universidade de Caxias dos Sul, 1997. 2- Angelo Trento Do outro lado do Atlântico. Editora Nobel, 1989. São
Paulo. pág. 118. 3- Angelo Trento Do outro lado do Atlântico. Editora Nobel, 1989. São Paulo. pág. 120.
Genealogia
|
|
|