|
|
|
|
|
|
|
|
Entre 1870 e 1925 ocorreu um movimento de imigração, que fez sair da Itália mais de 17 milhões de pessoas, encaminhando-se
para diversos países. Os italianos espalharam-se pelo mundo e seus descendentes (cerca de 60 milhões) são hoje mais
numerosos que a população da Itália. Só no Brasil são cerca de 25 milhões. Por que alguém deixaria seu país, sua cidade
de origem, com destino a um mundo desconhecido, distante, levando consigo toda a sua família? Os vários livros e documentos
que tratam de imigração são unânimes: a fome. A Itália é a última nação européia a se unificar. O processo só se completa
em 1870, nascendo o Reino da Itália. Após a unificação a situação é ruim. A pobreza é crônica. O serviço militar é obrigatório
por três anos, mostrando incerteza quanto a paz recentemente alcançada, e retirando do grupo familiar uma importante força
de trabalho. A economia permanece estagnada de 1880 a 1886. O analfabetismo é altíssimo. Há desemprego generalizado e insegurança
quanto ao futuro. Na Itália, em 1861, dos 26 milhões de habitantes, apenas 600 mil falavam italiano; em 1886, 70%
da população (cerca de 20 milhões) continuava analfabeta; entre 1884 e 1887 a cólera matou 55 mil; em 1887 a malária vitimou
40 mil e a pelagra 100 mil. A população era cerca de 30 milhões, e 21 milhões eram camponeses, trabalhando a terra de outros.
"Os camponeses do norte comiam carne uma vez por mês, e os do sul, uma vez por ano".(1) No Vêneto,
de economia tradicionalmente agrícola, os problemas eram muitos. Em 1882 há um inverno muito rigoroso, com grande queda na
produção das videiras e de forragem (nos países em que há neve no inverno, é necessário armazenar comida para os animais,
para ser consumida nessa época - a forragem). Em outros anos, a seca prejudicou as plantações. "Na Sardenha,
na Sicília, na Calábria, na Puglia, vemos cenas de completa barbárie, ... e a vida do negro, no cenário da escravidão, é preferível
àquela dos camponeses de certa terra da Lombardia e do Vêneto".(2) O sistema fundiário, ao estilo feudal,
fazia com que não existisse terra suficiente para a população plantar, e as pequenas propriedades iam sendo continuamente
divididas entre os filhos, vendidas a baixo preço, ou então, passando para o filho mais velho, deixando os outros filhos não
contemplados, sem terra e sem meios de sustento. Todos esses fatores associados a uma superpopulação, geraram um excedente
de mão de obra barata, à beira do desespero. "... o fenômeno é tão importante, que denuncia a dor da Itália".(3)
"Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? (...) Plantamos e ceifamos o trigo,
mas nunca provamos o pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos os animais, mas não comemos a carne
... Apesar disso, vós nos aconselhais ... A não abandonar a nossa pátria. Mas é uma pátria a terra que não se consegue viver
do próprio trabalho?" (Palavras de um imigrante italiano, em resposta a um ministro, também italiano, que o aconselhava
a não emigrar).(4) Pressionado por tal situação Giovanni Pozzebon, com seus quatro filhos, esposa e mãe, vem para
o Brasil. 1- Rovílio Costa, in Suplemento Especial, Correio Riograndense, 27/04/94. 2- Corriere della
Sera, 11/11/1883. 3- Corriere della Sera, 01/11/1888. 4- citado in Angelo Trento - Do outro lado do Atlântico.
Editora Nobel, 1989. São Paulo.
|
|
|